domingo, 18 de março de 2012

PASTORA SÓ EM CASA

 MULHER
Conheça os sentimentos dessa mulher
O coração da esposa do pastor
Ariane Azeredo
Recentemente, uma notícia chocou o Estado americano de Memphis: uma jovem esposa de pastor assassinou seu marido com um tiro nas costas. A tragédia que destruiu a família de Mathew e Mary Winkler deixou a congregação que pastoreavam intrigada, já que Mary nunca aparentou desequilíbrio emocional. O lamentável acontecimento coincidiu com o lançamento do livro A Life Embraced: A Hopeful Guide for the Pastor´s Wife, ainda sem tradução em português, de Gayle Haggard. O livro trata da possibilidade das esposas de pastores se sentirem deprimidas e isoladas, vivendo à sombra dos ministérios dos seus esposos.

COBRANÇAS E PRESSÕES
Quando uma congregação contempla a esposa do pastor, é quase automático esperar que ela também tenha uma postura pastoral, alguém a quem se possa recorrer quando é preciso aconselhamento e socorro em situações adversas. Na opinião da psicóloga Sandra Pacheco, do Corpo de Psicólogos e Psiquiatras Cristãos, é quase impossível a esposa do pastor não atuar, nem que seja num momento de oração. Mas juntamente com essa responsabilidade, há uma série de desdobramentos dos quais ninguém se dá conta. Ela ressalta que o maior problema que pode ocorrer não é o ministério em si, mas a falta de diálogo no casamento. “O ideal é que ela seja uma pessoa transparente. Às vezes, o cristão vive o espiritual e o material e esquece de que tem emoções. E isso causa muitos transtornos. Veja o caso da tragédia nos EUA. Veio à tona um problema que já devia existir anteriormente no relacionamento do casal”.

O QUE ELAS PENSAM
Ana Lúcia Estábile Rocha de Jesus, 39 anos, esposa de Eraldo Rocha de Jesus, pastor da Igreja Água Viva (Niterói, RJ), é um exemplo de mulher bem resolvida quanto ao ministério de seu esposo. Ela conta que não se envolve muito com a igreja por falta de tempo, mas sempre participa das reuniões femininas e do louvor. Mãe de dois filhos e técnica judiciária do TJ-RJ, Ana afirma que nunca sentiu vontade de ser pastora, mas que jamais impediria que seu esposo desenvolvesse o seu próprio ministério.

Para o bispo Robson Rodovalho, casado com a bispa Lúcia, a vida ministerial é muito sacrificada e a esposa sente muito mais as dificuldades
Sincera, Ana Lúcia disse que não dá atenção para as cobranças que lhe fazem. “Às vezes, algumas coisas me importunam, mas consigo lidar com isso e não deixo a igreja me dominar”. Ela diz que aprendeu a buscar um relacionamento íntimo com Deus e a manter sua individualidade e identidade próprias. “Sei o meu lugar diante de Deus. Mesmo que não tenha um ministério, a mulher não deve viver à sombra do marido. Ter uma identidade com Deus é o mais importante”, ensina.
Quem também lida com naturalidade com as exigências dos membros da igreja é Sílvia Bastos, esposa do pastor Carlos Bastos, da Igreja Missionária Evangélica Maranata. Aos 54 anos de vida e 31 de casada, terminou a terceira faculdade este ano (ela já cursou Letras, Pedagogia e Psicologia). “Meu marido sempre foi muito ativo na igreja, mesmo antes de ser pastor. Eu ajudo dentro do possível, mas sou uma pessoa bem transparente. E não costumo fazer aquilo que não quero. Sei lidar muito bem com as cobranças e não me incomodo com o que os outros pensam de mim”, confessa. Apesar de também nunca ter sentido o desejo de ser pastora, Sílvia ajuda o marido no atendimento pastoral. Entretanto, afirma que ele não cobra nenhum envolvimento maior com a igreja.“Trabalho lado a lado com ele, mas não me anulo”.

ORDEM NA CASA
Um casamento sadio parece ser a receita para um ministério bem-sucedido. Na casa de Ana Lúcia e Eraldo, as atenções são bem divididas. “Um dia da semana é só para nós dois”, conta. Ela também afirma que trata seu esposo como homem, não como pastor, tanto que quando tem um problema, procura uma pastora amiga para se aconselhar. Na opinião de Sílvia, o casamento e a casa do pastor devem estar em equilíbrio todo o tempo. “Afinal, a Bíblia mesmo diz que o homem que não sabe cuidar da sua própria casa não pode cuidar da casa de Deus”.Sobre o casamento, a psicóloga Sandra diz que o casal deve buscar a compreensão do que significa ser uma só carne. E, principalmente, reconhecer quando estiverem precisando de ajuda. “Precisam cuidar do casamento, ter intimidade e amizade, priorizando o Reino de Deus”,aconselha.

O QUE ELES DIZEM
“A mulher é o apoio constante em todos os lados. Mesmo que não seja pastora, ela tem que estar junto, ela é a ajudadora”. Esta é a visão do pastor Marco Antonio Peixoto, da Comunidade Internacional da Zona Sul. Ele acredita que o pastor deve desejar a companhia da esposa em todas as esferas. “Se Deus o tem colocado em uma posição de honra, levando-o a lugares mais altos, ele tem que levar sua esposa junto”.

Na opinião de Ana Lúcia, mesmo que a mulher não tenha um ministério, não deve viver à sombra do marido, sabendo que o mais importante é ter uma identidade com Deus
Robson Rodovalho, bispo da Igreja Sara Nossa Terra, entende que a mulher tem o sentimento mais aguçado, por isso completa o homem. E que a responsabilidade de cuidar da esposa é do marido. “Ele deve respeitar se ela não quiser se envolver. Deve haver a harmonização dos espaços de cada um”. No seu modo de ver, a vida ministerial é muito sacrificante e que a esposa sente muito mais essas dificuldades. Por isso, aconselha que haja sensibilidade na vida conjugal.

VOCAÇÃO E PRIVILÉGIO
Há um lado especial em ser vocacionada para ser esposa de pastor. É o que diz Nancy Dusilek, segunda vice-presidente da Convenção Batista Brasileira e esposa do pastor Darci Dusilek. No livro “Mulheres Sem Nome”, publicado em 1980, ela trata do assunto com a tranqüilidade de quem vive esse papel há 35 anos. Em sua opinião, a mulher do pastor deve desenvolver o dom que Deus lhe deu sem se cobrar por aquilo que não tem aptidão para fazer. Deve ainda ter intimidade e compromisso com Deus e cuidar da sua saúde emocional. “Entendo que quando Deus vocaciona o marido, todos os privilégios e os desafios de um ministério chegam para a esposa também. E isso tem um preço, mas nunca pode ser visto como um peso”, finaliza Nancy, adiantando ao público que o livro deve ser reeditado ainda este ano.

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